quarta-feira, 13 de junho de 2012

Os Santos Populares

Dos Santos populares, aquele que tem para o povo da freguesia de Sortelha maior significado e consegue gerar ainda um certo entusiasmo é o São João.

Nos dias que o antecedem, era costume em Sortelha os rapazes espetarem um mastro no centro do largo de São Gens, o qual era revestido com rosmaninhos e outros adornos, como balões, bandeiras e recortes de papéis de fantasia, que davam ao mastro uma certa graça, fazendo lembrar o São João.

Nessa noite, os rapazes costumavam organizar o tradicional baile de São João, ao qual ocorria grande parte da população.

Por volta da meia-noite, deitava-se o fogo ao mastro e fazia-se aquilo a que as pessoas chamam o “sarnadoiro” ou “sarnadouro”, que consiste em saltar por cima das fogueiras enquanto os rosmaninhos ardem exalando no ar o seu agradável e característico perfume. Atualmente, dada a falta de gente jovem no nossa região, capaz de imprimir vida à noite de São João, por vezes em substituição do mastro fazem-se aqui e ali pequenas fogueiras que, dentro de uma certa crença, servem apenas para as pessoas se “sarnarem” acreditando que assim ficam livres de certas doenças.

Na Quarta-Feira, as pessoas ao saltarem as fogueiras, costumam entoar algumas rimas populares, que cada qual compõe no momento, usando talvez um pouco da sua veia poética, tais como:

Sarnar em Valhelhas

Saúde para as orelhas

Sarnar em Água Belas

Saúde p’ ras minhas canelas.

Etc. etc..



Para além destas rimas da autoria das pessoas que vão saltando, costumavam-se cantar algumas cantigas alusivas ao São João das quais se destacam as seguintes:

Ai repenica, repenica, repenica,

Ai São João a suar em bica.



Ai repapoila, repapoila, repapoila,

Arroz-doce p’rá minha caçoila.

Ai orvalheiras, orvalheiras, orvalheiras,

Viva o rancho das mulheres solteiras.

Ai orvalhadas, orvalhadas, orvalhadas,

Viva o rancho das mulheres casadas.



Se fores ao São João

Trazei-me um São Joãozinho,

Se não puderes com ele mais grande,

Trazei-me um mais pequenino.



S. João p’ra ver as moças

Fez uma fonte de prata,

Mas as moças não vão lá

 São João todo se mata.

Para animar mais a noite de festa, na Quarta-Feira era costume pendurar-se um cântaro de barro no cimo do mastro, dentro do qual era metido um gato tapado com rede, para não poder sair. Quando o fogo atingia o cordel que segurava o cântaro, este caía no chão e ao partir-se, o gato “assanhado” pelo barulho de alguns foguetes colocados no mastro, lançando no ar alguns “miaus”, fugia meio chamuscado, provocando o riso geral.

Com pequenas variações de umas anexas para as outras é assim, dum modo geral, que se celebravam e celebram as festas de São João na freguesia de Sortelha.

Relativamente ao São Pedro, embora não seja festejado actualmente, teve noutros tempos um papel de relevo nas mentes das gentes da freguesia de Sortelha, por estar ligado aos prazos de contratos estabelecidos entre patrões e criados.

Os contratos que fossem respeitantes ao ano todo ou apenas a alguns meses, terminavam quase sempre no dia de São Pedro, mesmo para os criados que estivessem vários anos na mesma casa.

Durante o período de contrato, os criados não tinham direito a pedir aumento de ordenado, mas logo que chegasse o dia de São Pedro, o criado podia pedir aumento e em caso de não chegar a acordo com o patrão, ficava livre para procurar outro.

Estes contratos eram sempre verbais, mas nem por isso tinham menos validade, pois salvo raras exceções, qualquer das partes respeitava integralmente o que tinha sido acordado.

Os criados que na véspera da feira de São Pedro, que ainda hoje se realiza no Sabugal, não chegassem a acordo com os patrões, nesse dia iam à feira, local onde os criados que tivessem deixado os patrões e os proprietários rurais que precisassem deles se encontravam para negociarem os seus contratos.

Alguns pastores, para serem identificados apresentavam-se a tocar flautas, consideradas instrumentos típicos da profissão e traziam às costas chocalhos e campainhas, “loiça” que era propriedade sua e por isso haviam retirado dos rebanhos dos anteriores patrões.

Os ganhões apresentavam-se com grandes varas, geralmente de castanho, freixo ou salgueiro, providas de picos na ponta , a que na Quarta-Feira se dá o nome de ferrão, consideradas emblemáticas daquela profissão.

A atestar a importância que o São Pedro tinha nas mentes das nossas gentes, relativamente aos contratos celebrados entre patrões e criados, está o facto ainda actual, de em jeito de brincadeira, se perguntar em véspera da feira à vizinha ou pessoa de relação corrente, se está contente com o patrão ou se vai ao São Pedro para “arranjar” outro novo e o mesmo se pergunta também aos homens se vão ou não mudar de patroa.

A resposta é geralmente esta ou outra semelhante: - Já pensei em mudar mas tenho medo de ficar pior.




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