domingo, 26 de janeiro de 2025

Homenagem ao meu pai

 

Homenagem ao meu pai

“Filho, ampara o teu pai na velhice, não o desgostes durante a sua vida; mesmo se ele vier a perder a razão, sê indulgente, não o desprezes, tu que estás na plenitude das tuas forças.” 


Tendo por base esta velha máxima da igreja, que dá muito que pensar, quero em poucas e humildes palavras prestar uma singela homenagem ao meu pai que após a sua existência terrena, vive no meu pensamento e no meu coração.

Não é possível por palavras, descrever a importância que o meu pai tem para mim, pela enorme influência que exerceu sobre mim ao longo da sua vida.

O meu pai não era apenas meu pai, pois era também o meu melhor amigo, o meu mestre e a minha grande referência, pelo que, para mim é um privilégio ser seu filho, como aliás penso que a maioria dos humanos também deve pensar sobre o seu progenitor.

Refletindo na frase “Ampara o teu pai na velhice”, que todos, sobejamente conhecemos, sou levado a pensar que por vezes temos muita dificuldade em entender as palavras / pensamentos da igreja, no entanto, por vezes há particularidades que são muito simples, diretas e atuais, pois a sociedade atual não valoriza quem não produz, mas na verdade essa desvalorização dos idosos já vem de há muito tempo, pelo que esta célebre frase lá tem a sua razão de existir. Tenho alguma paz interior, pensar, que de facto, amparei o meu pai na sua fase sénior.

Na verdade os pais, dão tudo pelos filhos e os filhos, por vezes, não fazem o que deveriam fazer pelos pais, pois não há paciência, são chatos, desatualizados, não percebem a nossa linguagem, etc... e tal... Enquanto filho, questiono-me muitas vezes se de facto fiz o que devia pelo meu pai e na verdade não consigo chegar a uma verdadeira conclusão. Talvez não tenha feito tudo o que devia ter feito pelo meu pai, mas tenho porém a sensação que fiz tudo o que achei que era o melhor para ele nos diferentes momentos  da sua vida e que estava ao meu alcance, na tentativa de retribuir o bem que sempre fez por mim, nunca desvalorizando a sua fragilidade.

Desde tenra idade ouvi o meu pai descrever o quão boa foi a sensação, de no ato do meu nascimento, ter sido contemplado pelo destino de ter tido um filho rapaz, pois já tinha uma menina e naquele momento, em que a ciência não permitia desvendar com qualquer antecedência o sexo do bebé, foi de facto uma enorme satisfação e surpresa ver que eu era um rapazinho.

Não sei como, mas com o passar do tempo o meu pai transmitiu-me esse orgulho que sentiu e conseguiu também que eu viesse a desenvolver o mesmo sentimento pelo facto de o ter como pai, pois desde muito cedo o acompanhei naquele que era o seu local de trabalho, a escola da Azenha, onde muito antes da idade legal para se entrar na escola, acabei por ingressar, primeiro para brincar com os seus alunos de então e depois como seu aluno, onde aprendi a ler e a escrever estas palavras que agora mesmo aqui estou a escrever e tantos outros ensinamentos essenciais para a vida, pois foi também com ele que ainda em tenra idade aprendi coisas de adultos, hoje impensáveis de serem aprendidas com aquela idade, pois muito cedo me capacitou para a condução de diferentes tipos de veículos. Já mais tarde e sob a sua orientação e influência, acabei por abraçar a sua profissão, fazendo dela também o meu modo de vida, pois apesar de todas as “contra indicações” que a profissão de professor tinha associadas a ela, na época em que me formei, conseguiu realçar os seus aspetos positivos ao ponto de me fazer acreditar, que ainda assim, valia a pena.

Já mais tarde e quando chegou a hora de ter que optar por um local para me radicar e como diz o ditado “quem casa, quer casa”, também aí me realçou os benefícios de ter casa na minha Terra Natal, o que inicialmente me pareceu uma ideia fantástica, para aqui poder passar os fins de semana e as férias e foi com esse principio que achei que valia a pena ter na nossa bela aldeia, a Quarta-Feira, um cantinho para aqui regressar sem qualquer constrangimento, sempre que me apetecesse, mas com o passar do tempo e quase sem me aperceber acabei por morar permanentemente na aldeia e passei então a fazer ao contrário, pois de vez em quando, aos fins de semana e nas férias, lá vou indo a qualquer lado, mas sempre com a vontade de regressar o mais rápido possível a esta terra, à qual me “orgulho” de pertencer. Podia eventualmente ficar, como tanta gente, por outras paragens, mas como ao destino ninguém foge, acabei por me radicar nesta aldeia que me viu nascer e ainda bem que assim foi, porque terras há muitas, mas a nossa é só uma e como por cá costumamos dizer: “não há terra como a  nossa”, modéstia à parte. Sobre o viver na minha aldeia não escrevo mais palavras, porque por meio delas é impossível transmitir a sensação que se tem em viver nas paisagens que foram também as dos nossos antepassados, onde cada detalhe faz lembrar a nossa própria história de vida. Também aqui, segui as pisadas do meu pai, pois apenas daqui saiu por curtos períodos de tempo a que foi obrigado, primeiro para cumprir o seu serviço militar na Guiné, que lhe foi imposto e mais tarde para poder frequentar o curso de professor, que foi, sempre, o seu modo de vida.

Já mais tardiamente e claro que esta “crónica” não ficaria completa se não falasse do gosto pelo mundo das abelhas, que, tão bem, me soube incutir e sem o qual já não me reconheço...parece que até das picadas gosto.

Muito mais poderia aqui referir, mas ficará, quem sabe, para outra invocação da sua memória, já que por mais que o tempo passe, jamais o esquecerei. Por tudo o que já aqui referi, sou grato pela bênção de o ter tido como pai e se, como acreditamos, existe algo para além desta vida, saiba que ser seu filho foi  uma verdadeira bênção. Farei o meu melhor para honrar o seu nome e para que o seu legado perdure para sempre.

Que Deus o receba de braços abertos e o tenha num lugar de serenidade e glória.

 

  

 

 

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