Hoje dia 16 de Abril realiza-se em Sortelha a festa de Santo
Antão, a festa de maior relevo na freguesia.
Todos os residentes e muitos outros que aqui têm as suas
raízes, embora morando fora, e até mesmo habitantes das aldeias vizinhas, fazem
questão de estar presentes na festa de Santo Antão.
Logo pela manhã, com a chegada da banda de música, tem início
a festa com a famosa alvorada de fogo de artifício. Terminada a alvorada, é a
vez da banda, com os seus elementos devidamente fardados, como é da praxe entre
as filarmónicas, dar o primeiro concerto tocando o chamado “toque da alvorada”.
Seguidamente, a banda, acompanhada por alguns populares, que marcham ao ritmo
da música, dá voltas às principais ruas da aldeia, ensaiando toques festivos como
que a “espicaçar” as pessoas para o dia que acaba de despertar e que promete
ser de verdadeira festa.
Terminada a volta pelas ruas, os músicos, levados pelos
mordomos, vão tomar o café que, nesse dia, outra coisa não é senão uma
refeição, para que, no dizer de alguns, eles possam soprar os seus instrumentos
com forças redobradas.
Por volta do meio dia começa a celebração religiosa, que é a
mola mestra de toda a festividade. A cerimónia inicia-se com uma longa e
demorada procissão que percorre as ruas da Vila e depois prossegue pelo
Arrabalde, indo dar a volta a uma pequena capela, chamada de Santa Catarina,
após o que regressa à Igreja Paroquial, onde seguidamente tem início a
celebração da Santa Missa.
Esta missa é celebrada pelo pároco da freguesia, coadjuvado
por dois sacerdotes, um dos quais faz o Sermão, enaltecendo as qualidades do
Santo Padroeiro, Stº Antão. No final da missa, logo as pessoas comentam cá fora
no adro da igreja as qualidades oratórias do sacerdote pregador: uns dizem que
o pregador era tão bom que “até fez chorar as mulheres”, outros dizem que “falou
muito bem” e outros ainda, em resposta aos
que dizem que falou bem afirmam: “ se fosse o pastor cá da terra a falar assim
é que era admiração, agora o senhor padre não admira nada”.
Com esta frase e outras de idêntico teor, fica bem
demonstrado o juízo de valor que se faz do padre, ele é o homem que sabe, isto
explica em parte o modo de viver e sentir desta gente e a sua afeição pelas
práticas religiosas e respeito pelo sagrado.
Antigamente, há trinta ou quarenta anos, os lavradores, não
só de Sortelha mas também de todas as anexas, tinham o costume de enfeitarem os
animais, sobretudo bovinos e ovinos e com eles participavam na festa,
integrando-se na procissão, para que o Sto. Antão, padroeiro dos lavradores,
lhes desse a protecção para os seus gados.
No momento oportuno, alguns pastores, correndo em frente dos
rebanhos, faziam, segundo contam os mais antigos, um cerco à capela de Santa
Catarina com os rebanhos, colocando as ovelhas a correr umas atrás das outras.
O pastor começava a correr na frente das ovelhas em volta da capela e logo que
ele atingia as que seguiam na cauda do rebanho, estava fechado o cerco e nesse
momento ele retirava-se para trás de alguém e as ovelhas, assim, corriam
ininterruptamente umas atrás das outras até que o pastor se colocasse de novo
no meio delas e lhes interrompesse a marcha.
Os lavradores que se deslocavam das aldeias anexas e das
quintas, faziam-no muitas vezes em carros de bois e carroças, as quais
enfeitavam com ramos de flores da época.
Alusivas a este facto apareceram algumas quadras que o povo
canta ao Stº Antão, entre as quais se destaca a seguinte:
“ Viva o
nosso Santo Antão
Qu’ é o rei
dos lavradores
Levam carros
e carroças
Carregadinhos
de fe..lores
Esta festa é, sem dúvida, a de maior importância na freguesia
de Sortelha. O facto de a gente desta região se dedicar à agricultura e dado
que o Sto Antão é o padroeiro dos agricultores, explica a razão da importância
dada a esta festa. O Santo que é representado encostado a um cajado, junto à
parte inferior do qual está um leitão, explica a razão pela qual muitas pessoas
prometem ao Santo Antão uma chouriça se, durante o ano tiverem sorte com o
suíno que criam para a matança. Havia
quem prometesse uma “tchouriça” da medida do pescoço do “marrano” e por isso,
no dia da matança mediam à volta do pescoço do bicho para poderem fazer uma
mesmo à media.
Relacionado com o facto de Stº Antão ser representado com o
leitão junto a ele, está o aparecimento de alguns versos como este:
Ó dim dim
Ó dim dim
Ó dim dão
Vivó nosso
Stº Antão
Mais abaixo
mais acima
Mais abixo
tem um leitão.
Para mostrar a sua fé, e às vezes por uma questão de brio
pessoal, o povo primava até poucos anos nas ofertas que dava ao seu padroeiro. As
ofertas compunham-se de grandes
tabuleiros, às vezes tampas de arcas, por serem de maior dimensão, repletas de
alimentos: cabritos, leitões, borregos, vinhos, doces, filhós, frutas, bebidas
várias, etc
Havia também o hábito de colocar no meio da oferta um ramo de
árvore enfeitado, no qual eram colocadas também algumas notas. Este hábito
foi-se perdendo, dado que as ofertas, numa boa parte das vezes, não tinham
compradores por parte do público, pois os que lá moravam não as arrematavam e
os que vinham de fora não queriam gastar tanto dinheiro.
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