segunda-feira, 16 de abril de 2012

A Grande Festa de Santo Antão

Hoje dia 16 de Abril realiza-se em Sortelha a festa de Santo Antão, a festa de maior relevo na freguesia.

Todos os residentes e muitos outros que aqui têm as suas raízes, embora morando fora, e até mesmo habitantes das aldeias vizinhas, fazem questão de estar presentes na festa de Santo Antão.

Logo pela manhã, com a chegada da banda de música, tem início a festa com a famosa alvorada de fogo de artifício. Terminada a alvorada, é a vez da banda, com os seus elementos devidamente fardados, como é da praxe entre as filarmónicas, dar o primeiro concerto tocando o chamado “toque da alvorada”. Seguidamente, a banda, acompanhada por alguns populares, que marcham ao ritmo da música, dá voltas às principais ruas da aldeia, ensaiando toques festivos como que a “espicaçar” as pessoas para o dia que acaba de despertar e que promete ser de verdadeira festa.

Terminada a volta pelas ruas, os músicos, levados pelos mordomos, vão tomar o café que, nesse dia, outra coisa não é senão uma refeição, para que, no dizer de alguns, eles possam soprar os seus instrumentos com forças redobradas.

Por volta do meio dia começa a celebração religiosa, que é a mola mestra de toda a festividade. A cerimónia inicia-se com uma longa e demorada procissão que percorre as ruas da Vila e depois prossegue pelo Arrabalde, indo dar a volta a uma pequena capela, chamada de Santa Catarina, após o que regressa à Igreja Paroquial, onde seguidamente tem início a celebração da Santa Missa.

Esta missa é celebrada pelo pároco da freguesia, coadjuvado por dois sacerdotes, um dos quais faz o Sermão, enaltecendo as qualidades do Santo Padroeiro, Stº Antão. No final da missa, logo as pessoas comentam cá fora no adro da igreja as qualidades oratórias do sacerdote pregador: uns dizem que o pregador era tão bom que “até fez chorar as mulheres”, outros dizem que “falou muito bem” e outros ainda, em resposta  aos que dizem que falou bem afirmam: “ se fosse o pastor cá da terra a falar assim é que era admiração, agora o senhor padre não admira nada”.

Com esta frase e outras de idêntico teor, fica bem demonstrado o juízo de valor que se faz do padre, ele é o homem que sabe, isto explica em parte o modo de viver e sentir desta gente e a sua afeição pelas práticas religiosas e respeito pelo sagrado.

Antigamente, há trinta ou quarenta anos, os lavradores, não só de Sortelha mas também de todas as anexas, tinham o costume de enfeitarem os animais, sobretudo bovinos e ovinos e com eles participavam na festa, integrando-se na procissão, para que o Sto. Antão, padroeiro dos lavradores, lhes desse a protecção para os seus gados.

No momento oportuno, alguns pastores, correndo em frente dos rebanhos, faziam, segundo contam os mais antigos, um cerco à capela de Santa Catarina com os rebanhos, colocando as ovelhas a correr umas atrás das outras. O pastor começava a correr na frente das ovelhas em volta da capela e logo que ele atingia as que seguiam na cauda do rebanho, estava fechado o cerco e nesse momento ele retirava-se para trás de alguém e as ovelhas, assim, corriam ininterruptamente umas atrás das outras até que o pastor se colocasse de novo no meio delas e lhes interrompesse a marcha.

Os lavradores que se deslocavam das aldeias anexas e das quintas, faziam-no muitas vezes em carros de bois e carroças, as quais enfeitavam com ramos de flores da época.

Alusivas a este facto apareceram algumas quadras que o povo canta ao Stº Antão, entre as quais se destaca a seguinte:

“ Viva o nosso Santo Antão

Qu’ é o rei dos lavradores

Levam carros e carroças

Carregadinhos de fe..lores

Esta festa é, sem dúvida, a de maior importância na freguesia de Sortelha. O facto de a gente desta região se dedicar à agricultura e dado que o Sto Antão é o padroeiro dos agricultores, explica a razão da importância dada a esta festa. O Santo que é representado encostado a um cajado, junto à parte inferior do qual está um leitão, explica a razão pela qual muitas pessoas prometem ao Santo Antão uma chouriça se, durante o ano tiverem sorte com o suíno que criam para a matança.  Havia quem prometesse uma “tchouriça” da medida do pescoço do “marrano” e por isso, no dia da matança mediam à volta do pescoço do bicho para poderem fazer uma mesmo à media.

Relacionado com o facto de Stº Antão ser representado com o leitão junto a ele, está o aparecimento de alguns versos como este:

Ó dim dim

Ó dim dim

Ó dim dão

Vivó nosso Stº Antão

Mais abaixo mais acima

Mais abixo tem um leitão.

Para mostrar a sua fé, e às vezes por uma questão de brio pessoal, o povo primava até poucos anos nas ofertas que dava ao seu padroeiro. As  ofertas compunham-se de grandes tabuleiros, às vezes tampas de arcas, por serem de maior dimensão, repletas de alimentos: cabritos, leitões, borregos, vinhos, doces, filhós, frutas, bebidas várias, etc

Havia também o hábito de colocar no meio da oferta um ramo de árvore enfeitado, no qual eram colocadas também algumas notas. Este hábito foi-se perdendo, dado que as ofertas, numa boa parte das vezes, não tinham compradores por parte do público, pois os que lá moravam não as arrematavam e os que vinham de fora não queriam gastar tanto dinheiro.

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