Em tempos que já lá vão, quando à Quarta-Feira, à semelhança de tantas aldeias, era difícil chegar um padeiro e tão pouco havia, da parte da população, possibilidades económicas para se poder adquirir esse bem tão precioso e de primeira necessidade que é o pão, não restava às pessoas outra alternativa que não fosse o cultivo do centeio em lugares de tão difícil acesso que às novas gerações lhes parece impossível que alguma vez essas encostas rochosas, escarpadas e de grande declive tivessem sido cultivadas.
Era pois a realidade daqueles tempos em que cada família tinha que praticar uma agricultura de subsistência capaz de lhes garantir a sua auto-suficiência do ponto de vista alimentar.
É neste contexto que nos aparecem os moinhos de água, que no caso da Quarta-Feira eram 7, e os fornos comunitários .
Na Quarta-Feira o forno servia toda a população que de 15 em 15 dias ali ia cozer o pão que haveria de servir de sustento, às vezes quase em exclusivo, a cada família.
De cada vez que o forno cozia havia sempre um habitante que estava encarregado de desamuar o forno, o que consistia em aquecê-lo pela primeira vez paro o que era necessário bastante mato, que era, naquele tempo, uma matéria muito escassa, tornando-se por isso, o desamuar do forno, uma tarefa difícil a que ninguém se podia negar.
Além da sua função primeira “padaria do povo”, o forno desempenhava também uma função social, pois era ali que à noite, essencialmente no Inverno, em volta da fogueira a rapaziada se juntava aos serões para conviver e de vez em quando, se as finanças o permitiam, fazer algumas borgas, nomeadamente as bicas que eram uma tradição que consistia no pagamento de vinho, bacalhau, tabaco e outras coisas, por parte daqueles que de outras terras aqui se vinham casar.
E é neste espírito de reviver as tradições do passado que ainda hoje, anualmente, pela altura do Entrudo, aqui se realiza o evento “ O pão da nossa Aldeia”.
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